Por Bill Taylor
Vivemos em um mundo onde praticamente toda empresa é do ramo das “ideias”. Executivos e empreendedores vivem desesperados por soluções que lhes permitam surpreender clientes, reimaginar produtos e destacar-se na multidão. Contudo, é difícil ver coisas novas se você não sabe como prestar atenção, como reduzir o tempo das intermináveis reuniões, como ler mensagens e e-mails, como de fato escutar e começar a decodificar o que está acontecendo no mundo e o que realmente importa para você e sua empresa.
Rob Walker, colunista veterano e um professor de design sempre atento ao lado criativo da vida, acaba de publicar um livro deliciosamente instrutivo chamado The Art of Noticing, destinado a ajudar as pessoas a ver o mundo de outra forma. Os mais criativos entre nós, diz ele, “percebem o que todo mundo ignora”, e é por isso que ele instiga seus alunos a exercitar a “prática de prestar atenção”. A intenção de Walker é que eles reflitam sobre “o que percebem, o que deixam escapar, por que isso é importante, e como se tornar observadores que olham o mundo com mais atenção, profundidade e originalidade”.
O livro de Walker oferece exercícios e práticas para ajudar aspirantes a artistas, designers e cineastas a conseguirem exatamente isso. No entanto, a criatividade é importante demais para ser reservada apenas a “pessoas criativas”. Lendo o livro, refleti sobre alguns dos líderes empresariais mais inovadores que conheci e as práticas que desenvolveram para perceberem o que outros deixaram de notar. Vamos conhecer aqui quatro maneiras não convencionais de aprimorar a arte de perceber.
Organize uma viagem de campo empresarial. Vários anos atrás, passei um dia com o gestor de fundos hedge Tom Brown e seus colegas da Second Curve Capital. Brown faz grandes apostas em bancos e empresas de serviços financeiros, por isso passa muito tempo em prospecções com CEOs e CFOs. Uma vez por ano, no entanto, Brown muda sua linha de visão dos escritórios executivos para as ruas. Cada colaborador da empresa, desde a recepcionista até os especialistas encarregados das principais carteiras, recebe cinco notas de cem dólares e é colocado em uma equipe para praticar o que ele chama de Branch Hunt (Caçada pelas Agências), uma experiência meio parecida com a de cliente oculto, mas com o espírito lúdico de uma caça ao tesouro. As equipes percorrem uma avenida previamente designada de Nova York, visitando todos os bancos que encontram e utilizando o dinheiro para abrir contas correntes e fazer operações diversas em busca de atos inspiradores de excelência em atendimento, situações burocráticas ou de indiferença. Um integrante de cada equipe tira fotos. Depois de um longo dia batendo perna, todas as equipes se reúnem para uma reunião de balanço geral, que inclui até apresentação de slides. O que as diferentes equipes encontram é impressionante, decepcionante e absurdo. Assistindo a suas apresentações, percebi que, quando você pede a muitas pessoas inteligentes para treinar seus olhos coletivos em um setor do mercado financeiro, elas percebem coisas que outros deixam de notar.
Troque de cargo com um colega de uma empresa diferente. Sou um grande fã de Maxine Clark, a empreendedora do setor varejista que criou a Build-a-Bear Workshop. Clark sempre foi ávida por novas perspectivas sobre a experiência de varejo, e ela admirava o que seu colega, Kip Tindell, estava fazendo na Container Store, empresa que criou. As duas empresas eram marcas de varejo jovens e de grande notoriedade, embora de ramos bastante distintos. Então, Clark e Tindell resolveram fazer uma troca nada ortodoxa: cada um foi trabalhar como sócio de linha de frente na empresa do outro. Eles perceberam todo tipo de ideias e práticas de merchandising, motivação de colaboradores e comunicação interna que funcionavam em uma empresa e que poderiam muito bem dar certo na outra. A lição: às vezes as ideias mais criativas para seu ramo são aquelas que já estão funcionando em uma empresa de outra área. O desafio, claro, é percebê-las.
Se você não pode trocar de cargo, troque de chapéu. Nem todo mundo tem a flexibilidade ou a autoridade para literalmente trocar de emprego com um colega de outro ramo. Porém, você pode partir para a segunda melhor opção. Os profissionais de criação da TBWA, a agência de publicidade com foco em inovação, elaboraram um exercício que chamam de “Chapéu de CEO” para ajudar os clientes a resolver problemas. Os executivos buscam por respostas de uso imediato a perguntas estratégicas importantes revirando caixas repletas de chapéus, camisetas e outros itens distribuídos como brindes por marcas icônicas como Apple, Virgin ou Southwest Airlines, adotando a atitude mental dessas empresas ao analisarem seu próprio negócio. Como um líder da TBWA me explicou, “o simples ato de ter a liberdade de pensar como outra pessoa lhe dá permissão para gerar ideias a que você não chegaria de outra forma”. Uma maneira de prestar mais atenção é olhar o mundo através dos olhos de outra pessoa.
Para mudar o que você vê, mude como (e quem) você escuta. Como Walker observa, prestar atenção envolve tanto a visão quanto a voz — quem você ouve influencia na forma como você entende o mundo. É por isso que a “mentoria reversa” é uma prática tão benéfica. Na PwC, a gigante da consultoria, mais de 120 colaboradores da geração millennial são mentores formais de cerca de 200 sócios e diretores. Ao se relacionar com colegas várias décadas mais jovens, os líderes mais experientes obtêm uma perspectiva muito diferente sobre tecnologia, cultura e trabalho — e escutam e veem coisas que nunca teriam percebido sozinhos.
A tarefa da liderança hoje é enxergar coisas que os outros não conseguem ver. Entretanto, o que você vê é influenciado por como e para onde você direciona os olhos e ouvidos. Se você praticar o exercício da atenção, poderá se surpreender com as descobertas que fará e com a criatividade que irá desencadear.
Bill Taylor é cofundador da revista Fast Company e autor do livro Simply Brilliant: How Great Organizations Do Ordinary Things in Extraordinary Ways.
Matéria: Harvard Business Review
Fonte: https://hbrbr.uol.com.br/ideias-percepcao/