O PROFISSIONAL E AS TRILHAS DE APRENDIZAGEM EM IC
Há muitos anos fui convidado para dar uma palestra na ESPM para uma turma de pós graduação de Gestão Estratégica e Inteligência Competitiva.
A ideia geral seria compartilhar um pouco para os alunos um assunto que sempre gerou curiosidade. Quem me convidou foi a Elisabeth Gomes, à época minha diretora de inteligência. Aproveitei e levei a minha esposa para ver se ela entendia um pouco o que eu fazia e aproveitei a deixa e a convenci a fazer um MBA em Inteligência Competitiva.
O tema geral seria: Qual seria o perfil ou a formação de um profissional de Inteligência? E até hoje me perguntam isso. Empresas que querem contratar, pessoas que querem trabalhar, headhunters, meus pares e outras pessoas que como eu são – naturalmente curiosas.
ALGUMAS ATIVIDADES
Identificar tendências do mercado, desenvolver análises estratégicas, descobrir oportunidades e mapear riscos são as principais funções atribuídas à Inteligência Competitiva (IC) ou de Mercado (IM).
Esse processo analítico de informação gera recomendações objetivas, que servem como guia para decisões futuras. Para muitas empresas, estas são as atribuições e objetivos de uma área de IC, mas será verdade?
Durante este tempo todo, e lá se vão mais de 17 anos de experiência neste assunto com estudos e aplicações empresariais, tenho visto várias empresas, grandes e pequenas, de diversas áreas, que usam apenas notícias, por vezes clippings, para orientar seus colaboradores, trabalhando essa informação como um produto da área de IC.
A informação é um ativo relativamente barato, por outro lado, a sabedoria custa caro.
Em outras ocasiões são usados resultados de pesquisas de mercado, com projetos belíssimos e robustos, porém retratam somente um determinado momento do setor. Tiram uma fotografia.
Exemplificando essa questão, no quarto trimestre de 2014 li uma pesquisa do maior instituto de pesquisa Brasileiro que tratava a classe C como um grande mercado e oportunidade para um segmento específico, e já no início de 2015 o mercado tinha mudado e em apenas 3 meses aquela oportunidade de “mercado” tinha sumido.
Por diversas vezes conseguimos reverter este entendimento, mas em muitos outros fracassamos.
Não tem nenhum problema errar. Errar faz parte de quem faz. O problema é não fazer nada.
O grupo indiano Tata para se manter relevante e inovador no segmento de tecnologia tem uma premiação anual para a ideia de maior fracasso.
Uma possível conclusão acerca do fracasso se deve a uma falta de planejamento para criar uma área de Inteligência, seguido de uma falta de maturidade destas empresas para entender o que lhes será entregue e é claro de capacitação dos colaboradores neste tema.
CAPACIDADE E DIVERSIDADE
Não é somente capacitação em análise, como temos visto tantas ofertas no mercado, mas uma capacitação em planejamento, em gestão de relacionamento com o cliente de inteligência e com o fornecedor de informação.
Capacitação em gestão de projetos, em negociação, em análises, em um mínimo de tecnologia, entre tantos outros conhecimentos muito mais ligados a questão da relação interpessoal do que em relação à aprendizagem analítica.
Mas isto não se aprende nas escolas. Isto se aprende nas empresas. Cada profissional, independente da sua formação, tem que aprender na empresa e com a empresa.
Somente desta forma ele vai conseguir alcançar este conjunto de conhecimentos e habilidades necessárias a sua função, ou melhor, a função de profissional de inteligência daquela empresa.
Pensando nesta formação, não muito simples, Elisabeth Gomes, que foi a minha diretora e umas das minhas mentoras no mundo, criou um modelo de Trilhas de Conhecimento para Inteligência, uma escada onde os degraus são escalados à medida que se adquire competência em Inteligência.
Esta forma considera o Indivíduo como o personagem principal do seu próprio desenvolvimento, com aquisição gradativa de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, conforme mostrado na figura abaixo, que aumentarão o nível de proficiência em Inteligência, aumentando o desempenho profissional, mas sempre relacionando e considerando a maturidade da empresa em Inteligência.
Cada um destes degraus diz respeito a um conjunto de conhecimentos que devem ser adquiridos pelo profissional de Inteligência.
Na descrição de cada degrau, sugerimos alguns temas de estudo e desenvolvimento de competências. Se o indivíduo iniciar sua escalada pelo primeiro, os temas idênticos nos degraus acima não serão mais necessários para sua formação.
INICIANTE
O Iniciante está num estágio de desenvolvimento do conhecimento onde aplica sua competência com alguma supervisão, auxilio e orientação. Percebe significados, provoca a reflexão e compreende o que deve fazer.
Os objetivos e as competências necessárias e adquiridas neste degrau de formação em Inteligência são: o aprendizado dos conceitos e técnicas de Inteligência, a identificação das diferentes maneiras de realizar coletas e suas aplicações. Neste degrau deve buscar treinamentos mais formais e leitura de apostilas, em temas conforme os sugeridos a seguir:
CONHECEDOR – ANALISTA
O Conhecedor Analista está num estágio de consolidação do conhecimento onde aplica a competência de forma consistente e independente.
Os objetivos e as competências necessárias e adquiridas neste degrau de formação em Inteligência são: a identificação de novas formas de gerar valor para os clientes, o reconhecimento de diferentes maneiras de realizar as suas atividades e a participação da geração de novas ideias.
Neste degrau deve buscar, como o anterior, treinamentos mais formais e leitura de apostilas, em temas conforme os sugeridos a seguir:
CONHECEDOR – ANALISTA ESPECIALISTA
O Conhecedor Analista Especialista também está num estágio de consolidação do conhecimento onde aplica a competência de forma consistente e independente. Valoriza e internaliza o conhecimento adquirido, bem como o transforma em valor.
Os objetivos e as competências necessárias e adquiridas para este degrau de formação em Inteligência são: a identificação de novas formas de gerar valor para os clientes, o reconhecimento de diferentes maneiras de realizar as suas atividades e a participação da geração de novas ideias.
Neste degrau deve buscar, como nos anteriores, treinamentos mais formais e leitura de apostilas, em temas conforme os sugeridos a seguir:
EXPERIENTE
O Experiente está num estágio de compartilhamento do conhecimento onde aplica a competência em nível avançado e é capaz de orientar outros colaboradores no desenvolvimento desta.
Age de acordo com o valor estabelecido na empresa, impulsiona a transformação e orienta o outro.
Os objetivos e as competências necessárias e adquiridas neste degrau de formação em Inteligência são: Implementar iniciativas pioneiras que beneficiem a organização, identificar oportunidades diferenciadas que gerem valor para os clientes, alinhadas às estratégias do negócio, auxiliar os demais colaboradores a serem inovadores e conduzir o desenvolvimento de ideias e soluções inovadoras.
Neste degrau deve buscar treinamentos menos formais e aprendizados personalizados, em temas conforme os sugeridos a seguir:
REFERÊNCIA
O Referência está num estágio de promoção do conhecimento e aplica a competência de forma estratégica sendo referência para outros colaboradores.
É um multiplicador do valor e lidera a mudança quando necessário.
Os objetivos e as competências necessárias e adquiridas para este degrau de formação em Inteligência são: a identificação de novas formas de gerar valor para os clientes, o reconhecimento de diferentes maneiras de realizar as suas atividades e a participação da geração de novas ideias.
Neste degrau deve buscar treinamentos menos formais e aprendizados personalizados, em temas conforme os sugeridos a seguir:
CAMINHANDO E CANTANDO
Deve ficar claro que as pessoas na função de inteligência podem subir um degrau de cada vez e com isso ir acumulando e sedimentando conhecimentos adquiridos, bem como as suas habilidades.
No entanto, também podem se iniciar em um determinado degrau, caso sinta-se apto a começar por ele, ou a empresa para a qual está trabalhando já tenha maturidade suficiente para entender o que significa Inteligência.
Agora cabe a nós escolher por onde começar. Pergunte a si mesmo: o quão madura minha empresa é para entender o que a Inteligência pode entregar e comece a subir seus degraus.
Mas não desanime, porque a boa notícia é: o aprendizado é uma trilha para toda nossa vida.
É a nossa inteligência competitiva, para a sua vantagem competitiva.
Grande abraço,
Nícolas Yamagata, Eduardo Lapa e Elisabeth Gomes