É EM MEIO A UM EMARANHADO DE DADOS QUE OS GESTORES TÊM TOMADO DECISÕES.
Eis que surge uma palavra que busca resumir tudo que as organizações têm tentado resolver desde que a computação ganhou escala e saiu dos grandes centros de processamento de dados para as mãos de usuários: Big Data. Impressiona a forma como essa “palavra”, aplicada por muitos em diversos contextos, ora com viés tecnológico, ora com viés de negócios. Impressiona as visões compartimentadas, e que parecem corretas, para tratar um temo que, na sua essência, busca dar uso às informações. Poderíamos pensá-lo também como uma busca para endereçar a geração de inteligência numa organização e apoiar seu processo decisório.
Ok, aceitemos: a palavra Big Data entrou para um dos dicionários mais tradicionais para norte-americanos, o Merriam-Webster. Aceitemos também a pesquisa da IBM de fevereiro. O levantamento mostrou que de 2008 até 2013 foram criados 2,5 quintilhões de bytes ao dia. Aceitemos que o Gartner tenha afirmado que o volume de dados produzido em 2015 será 4,5 vezes maior do que o produzido no ano passado. Aceitemos que Brad Pitty, no filme “O homem que mudou o jogo” tenha usado o Big Data para montar um bom time de beisebol. Ok. Aceitemos que o volume de dados tem crescido exponencialmente. Aceitemos também que decisões empresariais robustas sejam tomadas com bases em dados, fatos e conhecimentos.
Só não devemos aceitar que quem determine isso seja o tal do Big Data. Só não aceitemos que o “mercado de big data crescerá 45% ao ano”, como noticiou o jornal Valor Econômico recentemente. Só não aceitemos que “o processo decisório das organizações está resolvido”, como afirmou o The Guardian. Só não aceitemos que o Gartner diga que “a partir do advento do Big Data, as organizações poderão fazer inteligência de mercado”. Em O Globo, em abril do ano passado, um executivo da EMC afirmou que “o pré-sal existe por causa do Big Data”. Só não aceitemos que algo que vem sendo tratado desde que estamos depositando informações digitalmente seja resolvido como uma panaceia pelo simples fato de ter se tornado uma terminologia. O que é Big Data? É uma tecnologia? Uma metodologia? Se trata de uma ferramenta?
Buscaremos criar questionamentos e esclarecimentos, ao mesmo tempo que certamente não esgotem o tema, mas trazem informações secundárias e um conjunto grande de conversas com pessoas que estão atuando na área. O tema por si só já é complexo. Em dez rápidas conversas pudemos ouvir mais de cinco definições bem distintas do que seja o Big Data. Mesmo com a pequena amostra, se percebe algum desalinhamento sobre o que seja. Se o próprio tema é ainda nebuloso, mais ainda se torna entender como ele poderia resolver os problemas dos processos decisórios de uma organização.
Em um evento acessamos os resultados de uma pesquisa feita pela Bain & Company com 260 empresas brasileiras. O levantamento abordava como o executivo toma as decisões mais importantes da companhia. Essa pesquisa apontou que mais de 70% dele toma uma decisão importante usando por base seu conhecimento e pesquisa de informação primária feita com sua rede de relacionamentos. A mesma Bain & Company, agora outro estudo com 409 grandes empresas onde se concluiu que “quem aderiu ao Big Data prematuramente ganhou vantagem competitiva sobre o restante do mundo corporativo”. Será? E será por causa disso? Onde está sendo usado o tal do Big Data?
Áreas de compras e suprimentos das organizações estão utilizando a ferramenta para redefinir suas estratégias com relação aos fornecedores. Elas constroem estratégias de relacionamento baseadas em grandes volumes de dados de compras já realizadas, de informações primárias, secundárias e até mesmo obtidas em veículos de comunicação. Áreas comerciais e de marketing utilizam muito o Big Data, pois definem o melhor mix de produtos nos pontos de vendas, traçam estratégias de reposição e colocação nos pontos de vendas. Utilizam informações de anos e anos de comercialização unindo tais dados à tendências e pesquisas de mercado. Para apurar o regime de compras de compras, verificar frequências de utilização e seu perfil de cliente, analisam milhões de registros de vendas. Conseguem identificar fatos bons e ruins, utilizando informações capturadas em jornais, revistas, blogs, mídias sociais, entre outras. As áreas de finanças realizam simulações, projeções e análises com base em registros de desempenho financeiro dos produtos e serviços das organizações. Assim, conseguem simular seu desempenho de acordo com cenários projetados e ter uma série de ferramentas para apoiar decisões.
É nesse emaranhado de dados que os gestores das organizações estão hoje envolvidos. São informações em grande volume e estruturadas vindas de fornecedores, parceiros, bases de dados setoriais, etc. E também informações não estruturadas de forças de vendas, mídia, etc. Enfim, conhecimento repassado entre pessoas e grupos e que, muitas vezes, sem um sistema informação integrado e preparado para conceber análises necessárias. E, na maior parte das vezes, tendo que tomar uma decisão muito rapidamente. Talvez o Big Data seja mais uma consequência disso tudo do que algo previamente pensado.
Mesmo com o grande número de conceitos sobre esse tema, o que se percebe em comum é que o Big Data é um conjunto de métodos, conceitos e ferramentas que apoiam pessoas a tratar um grande volume de dados e informações, de diversas naturezas e origens, com velocidade adequada. O que o Big Data vem buscar resolver e tem como desafio é gerenciar grandes volumes de informações, filtrar esses dados no menor tempo possível, cruzá-los com outros e gerar novos subsídios que apoiem na construção do conhecimento e, claro, ajudem em uma possível tomada de decisão.
Com o crescimento exponencial de informações, o Big Data é utilizado para descrever o crescimento, a disponibilidade e o uso de informações estruturadas e não estruturadas. Sempre se deve pensar em três importantes vetores para tratamento de tais informações: volume, variedade e velocidade. Algumas bibliografias falam também em veracidade e valor. Volume é crítico em qualquer organização que passe de um determinado porte. A tendência das bases de dados é a multiplicação constante. Já a variedade é mais crítica. Atualmente as fontes de informação são tantas que não há formatos definidos ou previamente acordados entre empresas. Isto faz com que a variedade entre as informações e dados necessários seja grande.
Processar muitos dados, em escala de Zetabytes, traz alguns problemas ainda na fase de processamento, de preparação dessas bases de dados e como as informações são necessárias para que as decisões sejam tomadas. Ou seja, a velocidade se torna crítica pelo tempo entre a demanda da informação e o período para ter uma resposta que suportará uma decisão. Com isso bem resolvido, em tese, as empresas poderão analisar milhões de registros para determinar preços ideais. Também poderão identificar o mix certo para cada um dos perfis de clientes ou mesmo analisar informações de mídias sociais para entender tendências de mercado. Ou seja, poderão, enfim, trabalhar melhor o conhecimento, esse valioso ativo das organizações.
Por Eduardo Lapa e Elisabeth Gomes