TUDO QUE É PUBLICADO NA WEB OU EM VEÍCULOS IMPRESSOS É VERDADEIRO E CONFIÁVEL?
A maior parte das pessoas já sabe que a resposta é não. Mas então porque encontramos veículos de mídia replicando conteúdos incoerentes, periódicos de grande tiragem publicando dados desatualizados e analistas e especialistas gerando estudos com resultados consideravelmente diferentes?
Já perceberam que é cada vez mais comum encontrarmos dados e informações que desconsideram momentos políticos, econômicos e governamentais no tempo em que o conteúdo será consumido? Já perceberam que as redes sociais estão tendo um papel relevante na geração e disseminação de notícias e informações?
Por outro lado há uma constatação que muitas vezes a qualidade e principalmente a veracidade dessas informações deixam a desejar.
A informação de qualidade, completa, fidedigna e esclarecedora começa a deixar saudades.
Com a criação do termo “Pós Verdade” publicado por Katharine Viner em um artigo no jornal britânico The Guardian, intitulado como “How the technology disrupted the truth”, começamos a observar a aflorar com cores mais vívidas o debate sobre o tema. No artigo em questão ela trata do #Piggate e Brexit como exemplos de reproduções divulgadas a exaustão e em massa em redes sociais, sem medir as consequências de suas implicações. No Brasil, vimos recentemente num misto de perplexidade, revolta e surpresa o caso da nadador americano Ryan Lochte – com o seu #Lochtegate. Lembro que a primeira reação foi o endosso da informação sem a checagem do fato pelos veículos, sua posterior reverberação nas redes sociais, o juízo de valor com suas muitas vozes e depois a verdade dos fatos vindo a tona.
Até aqui nada de novo no mundo da comunicação. A divulgação de besteiras e fofocas sempre provocou estragos e faz parte de uma cultura midiática de tabloides. A grande questão é que as redes sociais só ampliaram o seu alcance, e as pessoas parecem conviver cada vez melhor com a unilateralidade da informação. Importante também sinalizar a total ausência de preocupações de meios de difusão (informais ou formais) em definir onde estava a verdade.
Se fizermos um cruzamento da celeridade e competitividade do mercado de negócios do século atual com o alcance mundial da informação e o cenário de facilidade de divulgação encontrada pelos meios de comunicação, principalmente na web, chegaremos à fórmula “imediatismo por resultados, exigindo o imediatismo da geração de conteúdo, exigindo o imediatismo da coleta de dados e informações”.
Tudo sempre muito rápido, afinal o tempo é hoje e agora, com a espada e a cruz em cima da cabeça de todos.
E A INTELIGÊNCIA NO MUNDO PÓS VERDADE?
No exercício da função da atividade de Inteligência Competitiva, nos deparamos com este dilema constantemente, já que nosso objetivo, enquanto analistas de inteligência, é apoiar o tomador de decisão provendo informações e análises, com recomendações, buscando a mitigação do risco e a maximização dos resultados, sejam eles com foco mercadológico, concorrencial, comercial ou estratégico para a empresa.
Mas como um analista de inteligência lida com informações conflitantes?
O CASO DA ÁRVORE DE NATAL MOLHADA – ANM
Para tal recorro ao cenário descrito e vivido por nós, quando trabalhávamos em uma análise de inteligência para um cliente do segmento de óleo e gás (O&G). Abaixo relato de forma resumida as questões de negócios envolvidas, a solução, os desafios e outputs – e não menos importante – os aprendizados.
As Questões de Negócios a Serem Respondidas
- Nosso cliente, uma multinacional fabricante de equipamentos subsea, precisava de uma visão mais apurada acerca da demanda de árvores de natal molhadas (ANM) para o pré-sal, no Brasil, até o ano 2020.
A Solução
- Desenvolvemos uma análise preliminar – estimativas que, na verdade, focou-se em um trabalho de desconstrução das diferentes projeções já realizadas, encontradas no mercado de O&G.
Os Nossos Desafios
- Nosso desafio não foi a coleta de dados e informações, ou mesmo a elaboração de premissas para nossa análise, mas sim a realização da checagem das informações disponíveis e entender quais informações eram coerentes, quais estavam desatualizadas e quais estavam tendenciosas.
Por isso adotamos uma metodologia, desenvolvida pela Intelligence Hub, que envolveu tanto a validação e desconstrução das informações encontradas (considerando o período de publicação), quanto o cruzamento de dados e informações vs. o entendimento do cenário político-econômico vs. o período de transição da alta gestão da maior empresa (e influenciadora interna) brasileira no setor, a Petrobras.
Todo analista de inteligência tem que ter cuidado com a informação que usa. Portanto fazer estes tipos de checagem de informações e apuração de fontes é fator crítico de sucesso para uma análise assertiva e não tendenciosa.
Ao final do trabalho pudemos concluir que estes tipos de projeções são comumente encontrados e, naturalmente, baseados em dados quantitativos em função de estimativas iniciais de novas licitações de campos de exploração e de projeções de produtividade destes campos.
Ouput do Estudo
Se considerarmos que fatores exógenos como políticos, econômicos e governamentais são influenciadores diretos destas licitações, que licitações de campos exploratórios não garantem o arremate da totalidade ou mesmo a produtividade dos campos arrematados, e que este segmento O&G está em constante evolução, principalmente tecnológica, entenderemos a importância da qualificação de dados e informações, de estudos e projeções já realizados e de todas as fontes de informação, independente de reputação.
O resultado de nossa análise preliminar culminou no desenvolvimento de uma projeção mais apurada e realista, que contemplou dimensões mercadológicas distintas.
Ainda assim, um trabalho desta natureza, inevitavelmente, requer revisão periódica para acompanhar a volatilidade do setor e dos diversos players que o influenciam. Portanto os analistas de inteligência devem entender que nem tudo que está publicado é confiável.
Desconfiem sempre e busquem checar as informações necessárias entre várias fontes sejam elas primárias ou secundárias.
É a nossa inteligência competitiva, para a sua vantagem competitiva.
Por Nícolas Yamagata e Luciano Gonçalves